O Pentecostes de Éfeso

Verbo Pai
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Corações «irrequietos» por serem «movidos pelo Espírito Santo», ou «eletrocardiogramas espirituais» fracos, lineares, «sem emoções»? Em qual categoria nos encontramos? Foi a principal pergunta formulada a cada cristão pelo Papa na homilia. No início da semana na qual «a Igreja nos prepara para receber o Espírito Santo e nos faz refletir sobre o Espírito Santo, pedindo-nos que rezemos a fim de que o Espírito Santo venha à Igreja, ao meu coração, à minha paróquia, à minha comunidade», o Papa convidou os cristãos a pôr-se «na expetativa deste dom do Pai que Jesus nos prometeu».

A meditação inspirou-se na primeira leitura do dia dedicada à pregação de São Paulo em Éfeso (Atos dos Apóstolos 19, 1-8). Imediatamente se nota, relevou, «que essa comunidade que tinha recebido a fé não conhecia o Espírito Santo». A ponto que, disse, esta leitura se poderia chamar «O Pentecostes de Éfeso», porque «sucedeu o mesmo que acontecera em Jerusalém».

E no entanto «aquele povo era crente». Mas quando Paulo lhes perguntou: «Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?», eles responderam: «Nem sequer ouvimos que existe um Espírito Santo». Nesta narração deparamo-nos com a «realidade de uma Igreja composta por boas pessoas, gente de fé, que acreditava no Senhor Jesus», mas que «estava ali sem sequer conhecer este dom do Pai: o Espírito Santo». Então «Paulo impôs as mãos e teve início: “Desceu sobre eles o Espírito Santo e começaram a falar em línguas”».

O Pontífice explicou que, com a descida do Espírito Santo, para os discípulos de Éfeso «começou o impulso do coração porque o que move o nosso coração, o que nos inspira, que nos ensina» é ele: o Espírito «que move o coração», que alimenta «as emoções no coração». De resto, acrescentou, o próprio Jesus tinha dito: o Espírito «ensinará» e fará recordar «tudo o que vos ensinei».

O que aconteceu aos discípulos de Éfeso é uma experiência recorrente nas narrações do Novo Testamento, nas quais se encontram muitos personagens que «ouviram esta mensagem e mudaram de vida». Por exemplo, aprofundou o Pontífice, «podemos perguntar-nos: quem moveu Nicodemos a ir de madrugada a falar com Jesus?». Foi precisamente «aquela inquietude». E «quem moveu a samaritana depois de ter dado a água a Jesus, a entreter-se com ele a falar?». A resposta é que ela sentia que «o coração mudava». E ainda: «quem moveu a pecadora a ir ter com Ele e a lavar os seus pés com as suas lágrimas? E quem move tantas pessoas a aproximarem-se de Jesus? Pensemos naquela senhora, doente que perdia sangue: quem a moveu e inspirou aquele sentimento, aquela ideia: “Se eu tocar a bainha do seu manto, serei curada”?» A resposta é sempre a mesma: «o Espírito Santo», aquele que «move o coração».

Em seguida, o Papa, como de costume, atualizou a sua meditação aplicando-a à vida diária de cada cristão e formulando uma série de questões: «Sou como aqueles de Éfeso que nem sabiam se existia o Espírito Santo? Qual é o lugar que o Espírito Santo ocupa na minha vida, no meu coração? Sou capaz de o ouvir? Consigo pedir inspiração antes de tomar uma decisão ou dizer uma palavra ou fazer algo? O meu coração está tranquilo, sem emoções, um coração fixo?». De facto, acrescentou, o problema é que para «certos corações, se fizermos um eletrocardiograma espiritual, o resultado seria linear, sem emoções».

Essa realidade espiritual está descrita também nos evangelhos, recordou o Pontífice, se pensarmos, por exemplo, nos doutores da lei: «acreditavam em Deus, todos conheciam os mandamentos, mas o coração estava fechado, rígido, não se deixavam interpelar».

Eis, então, o fulcro da reflexão: é preciso «deixar-se interpelar pelo Espírito Santo». Alguém, disse o Papa, poderia objetar: «”Sim, ouvi isto... Mas, padre, isto é sentimentalismo?” — “Não, pode ser, mas não. Se fores pela estrada certa não é sentimentalismo”». Assim como pode acontecer de ouvir dizer: «Senti vontade de fazer isto, de ir visitar aquele doente ou mudar de vida ou deixar algo...». O importante é «sentir e discernir: discernir o que se sente no coração», porque «o Espírito Santo é o mestre do discernimento».

De facto, determinados impulsos são positivos: «uma pessoa que não sente esses impulsos no coração, que não discerne o que acontece, é uma pessoa com uma fé fria, uma fé ideológica. A sua fé é uma ideologia, eis tudo». Isto está descrito no Evangelho: «o drama dos doutores da lei que repreendiam Jesus».

Portanto, é preciso questionar-se: «Qual é a minha relação com o Espírito Santo? Rezo ao Espírito Santo? Peço luz ao Espírito Santo? Peço que me guie pelo caminho que devo escolher na minha vida todos os dias? Peço que me conceda a graça de distinguir o bom do menos bom? Porque se distingue imediatamente o bom do mau. Mas há aquele mau escondido que é menos bom, mas que escondeu o mau. Peço essa graça?».

No final das contas, a pergunta que o Papa hoje quis «semear» no coração de cada um foi: «Como é a minha relação com o Espírito Santo?». Isto é, cada cristão deveria perguntar-se: «Tenho um coração irrequieto porque é movido pelo Espírito Santo?», e: «Peço a graça de compreender o que acontece no meu coração?»; e por fim: «Quando tenho vontade de fazer algo, paro e peço ao Espírito Santo que me inspire, que me diga sim ou não ou só faço cálculos com a mente: “Isto sim porque caso contrário...?”».

O compromisso é pôr-se à escuta: «O que me diz o Espírito Santo?». Não é por acaso, recordou o Pontífice, que o apóstolo João no Apocalipse, dirigindo-se «a cada uma das sete igrejas daquele tempo, inicia assim: “Ouvi o que o Espírito diz às igrejas”». Portanto, concluiu, «peçamos hoje a graça de ouvir o que o Espírito diz à nossa Igreja, à nossa comunidade, à nossa paróquia, à nossa família e a mim, a cada um de nós: a graça de aprender esta linguagem para ouvir o Espírito Santo».


FRANCISCUS

Deus o abençoe!
Fundador Gleydson do Blog Verbo Pai

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